1 de julho de 2015

A BORBOLETA E O BESOURO

A BORBOLETA E O BESOURO

O sol acabara de nascer. Ele andava lentamente pelo gramado, quando viu duas borboletas conversando. Aproximou-se e lhes disse: “bom dia borboletas”. As duas, educadamente, responderam com sorrisos cativantes e um tom suave de voz: “bom dia besouro”. Conversaram um pouco sobre as coisas do dia e se despediram. No final da tarde, coincidentemente, reencontrou uma das borboletas em um galho, e começaram a conversar de suas andanças pelo mundo. Jardins que haviam visitado, lagos cristalinos, insetos interessantes que haviam conhecido e comidas que haviam provado. Marcaram de continuar aquele papo mais tarde.

A noite estava tão legal, que acabaram indo dançar na “Inseto Night Club”. Dançavam divertidamente entre todos que lá estavam, até que as antenas se tocaram. Com olhares perplexos, os outros insetos pensavam: “como assim? O besouro está se antenando à borboleta”. Sem se importarem com os outros, deixaram-se levar pelo encanto da noite, pela lua e pela companhia agradável que tinham. 

Os encontros foram acontecendo. O besouro se encantava com aquela criatura dócil e linda, a cada dia que passavam juntos. Suas asas desfilavam cores diversas que se alteravam conforme o sol as iluminava. Eram asas únicas, marcadas por pintinhas que davam um charme especial àquela borboleta. O besouro a reconhecia de longe quando ela vinha voando lentamente pelo ar. A borboleta, por sua vez, admirava o besouro pela força e coragem que ele demonstrava. Sua carapaça, lustrada de um negro opaco, tinha algo diferente que não a deixava desviar os olhos dele. 

Quando saíam para passear, as coisas ficavam um pouco complicadas. Se resolviam ir voando, a borboleta, com toda graciosidade, batia suas asas. O desajeitado do besouro nunca conseguia acompanhá-la. Dava mil piruetas, caía várias vezes no caminho, além de fazer um barulho perturbador. Se resolviam ir andando, a borboleta se cansava muito rapidamente de todo o esforço. O besouro, por sua vez, ia parando para esperá-la no caminho. Resolveram então uma forma mais prática para os dois. A borboleta pousava sobre o casco do besouro que a levava tranquilamente. Assim, passaram a seguir juntos. A borboleta e o besouro, quando queriam, podiam sair para voar sozinhos. Afinal, eles continuavam gostando, cada um, de ser o que eram e de poderem voar como lhes era natural.

Um dia, quando passeavam juntos por um jardim florido, o besouro sentiu algo no seu casco, como se estivesse sendo sugado. Reclamou do que sentia. A borboleta disse, carinhosamente, que, sempre que ela estava em seu casco, desenrolava sua língua e acariciava suas costas com beijinhos. Ele, desconfiado daquilo, sacudiu-se, fazendo com que a borboleta, assustada, voasse para longe. Por diversas vezes, ela voltou para conversarem e caminharem juntos. Mas, sempre que ela pousava em seu casco, ele se sacudia e a espantava.

Cansada de ser enxotada, ela resolveu não voltar mais e, voando, foi conhecendo novos lugares, seguindo por onde o vento a levava. O besouro, agora só, segue seu caminhar lento e, às vezes, alça seu vôo barulhento. Não entende ainda o que acontecia quando a borboleta, sobre ele, passeava. Afinal, quem desenvolveu aquele casco resistente, não consegue perceber bem a diferença entre ser sugado e ser beijado. Mas uma verdade o besouro sabe: borboletas como aquela são criaturas especiais e extremamente raras de se encontrar.